terça-feira, junho 21, 2005

a minha visão do arrastão de carcavelos...

há já algumas semanas vivi um episódio, que hoje, após recentes desenvolvimentos me parece um pouco surreal.
No fim de semana anterior ao do arrastão na praia de Carcavelos, tive de fazer uma viagem num comboio da linha de Cascais a um sábado (algo que devo dizer-vos detesto, fds é descanso até de transportes públicos) e vinha eu sossegadita junto a uma janela a ler (como sempre) sem que nínguem desse por mim, quando se sentou um senhor com uma mal evidentemente com um portátil, à minha frente. Até aqui nada de novo. Quando chegamos a Algés, entrou um grupo de 4 jovens, dois rapazes negros e duas raparigas brancas. Pelo traje, aspecto e comportamento vinham concerteza dum daqueles bairros problemáticos cujas camionetas param em Algés. Mas vinham na boa, continuei calmamente a ler como sp faço. eles deveriam ter todos cerca de 16 anos, um dos rapazes era muito forte e musculado, vinha cheio de estilo para a praia e pareceu-me desde logo liderar as operações. Eles encontraram um "sócio" e sentaram-se no outro lado da carruagem. Nisto entraram também em Algés outros dois individuos negros, estes vinham com sacos enormes e pesados numa mão e a bela da mini na outra e ficaram no átrio do carruagem.
Vindos nem sei bem de onde entrou um grupo de cerca de 10 rapazes, também eles de um bairro dito problemático. Vinham brancos e negros, todos com o mesmo comportamento, ocuparam toda a parte da carruagem onde estavamos. Nisto já o senhor á minha frente estava verde,agarrado ao computador, com um ar aflitissimo com as sobrencelhas arqueadas a olhar para mim. Mas os rapazes estavam mais preocupados com o "picas" do que com ele (este poder do picas ainda hoje me intriga, eles eram imensos, provavelmente umas pestinhas, mas o picas que mtas vezes é um homem de meia idade, gordo e bêbado que mal pode com ele pp, é causa de stress para esta malta).
Entretanto esta malta toda estava alegremente a confraternizar, já uns pediam goles da bejeca ao sócio dos pesos, sem se conhcerem, mas é na boa (isto não é relevante para o relato mas axei piada lol)
Chegando a Caxias, uma senhora de meia idade branca pega nos materiais da praia e dirige-se para a porta. O dito rapaz "líder" dirige-se à senhora e pergunta-lhe se aquela praia era boa. ao que ela responde "oh filho, não sei mas eu gosto. Acho boa e tranquilo". E eu que estava calmamente a ler sobre tias de cascais (reparem a ironia) levantei os olhinhos, pq o tom maternal desta mulher a falar com este míudo de susto chamou-me atenção. e axo q ao pp míudo também que ficou muito espantado a olhar para ela. Para aquela mulher aquele míudo, era simplesmente isso mm e não o ar de mau que ele estava a tentar mostrar, mas era também um "filho" como outro qualquer. E nesse momento tive a confirmação daquilo em que já acredito há muito tempo, é que os portugueses no seu sentido mais geral e mais popular, não são um povo racista. naquele momento senti a voz de um povo a falar através daquela mulher e senti um orgulho muito "nacionalista" (novamente a ironia das palavras). Lembrei-me logo de um ditado que o meu pai me ensinou é que Deus criou o branco e o negro e o português criou o mulato (levem isto na melhor acepção da palavra).
Nisto o rapaz chama o grupo para saírem, mas ficam indecisos, ao que os outros 2 da cerveja começam a mandar bitaites sobre se eles devem sair ou não. Discutiam entre eles qual era a melhor praia se aquela, se Carcavelos. O rapaz fica indeciso e mete um pé fora do comboio, deixando um lá dentro. Acaba por sair. não vos sei explicar que cara fez ele durante a indecisão, só sei que achei um piadão aquilo que quando ele finalmente saiu soltei uma risada que, por sinal, se ouviu em toda a carruagem. Só senti um oceano de olhares a desabarem-me em cima. Todo aquele gang da carruagem olhou para mim com um olhar inquisidor, numa tentativa de perceber se eu me ria dum congénere, quando na realidade eu só me ria de uma expressão humana de indecisão que me pareceu cómica. Não esquecendo o olhar fulminante que o rapaz à minha frente me deitou por eu ter chamado a atenção para aquele sítio (sim porque até aí, nínguem tinha mesmo dado por nós, nem mesmo o rapaz que se sentou ao nosso lado, eu ia a ler e o outro ia calado que nem um rato armado em invisível).
Bem tirando o facto de termos visto uma pessoa morta na linha nesse dia, o que causou descrições aguçadas nos rapazes e expressões de nojo nas raparigas, o resto da viagem decorreu normalmente).
E o que é q tudo isto tem a ver com o arrastão de Carcavelos?
(deixemos para o take II)

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