A Flauta...
«"A Flauta guarda as chuchas de todos os meninos da vila. Se eles quiserem podem ir lá pedir-lhe mas até hoje nenhum foi."
Pois não. Quem se atreveria a chegar perto daquela mulher de mil saias esfarrapadas e xailes a roçar o chão, sobre os quais se desgrevam longos cabelos cor de pimenta? Flauta ou a Bruxa dos Brigantes, como alguns lhe chamavam, arrastava acumulada nos pés a poeira dos anos. Quase todos as temiam. Uns, por a acharem louca e estranha. Outros, por desconhecerem as origens da sua indiscreta sabedoria.
De olhos permanentemente cerrados, dizia-se que tinha a visão no estômagoe que daí lhe saíam vozes surpreendentes. Uma bruxa conhecedora de muitos mistérios da natureza e dos homens, em permanente conversa consigo mesma ou com interlocutores imaginários. Tempos houve em que fora uma mulher respeitada pelos seus presságios, até ao dia em que se negara a aceitar uma pequena fortuna pela vendo dos terrenos, onde se erguia agora o complexo fabril e um bairro de prédios que avançava ameaçador comendo os eucaliptais.»
In Agradece o Beijo de Ana Zanatti
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